" Onde estás tu, gabiru? "
Ontem disseram-me, num "contexto aleatório":
- Se fechares a mão, a areia escapa-se entre os dedos. Se a abrires, tudo te foge.. "
Fiquei a pensar nisso. Na verdade, até tinham a sua razão.
E eu desesperei. Achei que, ao entrar na Faculdade, deixei abrirem-se demasiados sorrisos.. Dei-me a demasiadas confianças.. Pior de tudo, descobri uma liberdade sem limites, à qual me entreguei, sabendo não poder controlar..
Pensei:
- Abri as mãos. Estou a perder o controlo porque abri as mãos. Não devia..
Tentei superar isso. Vi que estava sempre a tempo de fechar as mãos. Talvez até pudesse apanhar alguma coisa do chão, que tivesse ficado perto de mim.. Bastava apanhá-la, fechá-la na mão e só escapariam os grãos de areia..
Mas..
Não fiquei bem..
Mais tarde, ainda ontem, disseram-me:
- Há sempre areia que nos escapa por entre os dedos, não podemos controlar.
Mas..
Não fiquei bem..
Lembrei-me dos tempos em que nada me escapava das mãos.
Da altura em que ajudava todos..
Dos anos em que controlei tudo..
Em que nada me batia.
Talvez não sorrisse tanto..
Mas chorava menos.
Onde está essa pessoa assim?
Só pensei, como diz a outra:
- Onde estás tu, gabiru?
E aí é que vi:
Quando nada me escapava..
Quando a areia não fugia entre os dedos..
Nessa altura,
usava as duas mãos que sempre tive.